Comunistas Capitalistas
Nossos comunistas estão muito mudados. Os revolucionários de hoje já não revolucionam como revolucionavam nossos pais (ou melhor, os pais de vocês – os meus não curtiam essa vibe).
Desde os “democratic socialists” americanos até toda essa juventude brasileira que se indigna com os absurdos do capitalismo tardio – aqui e lá – sabe-se de uma coisa: a sociedade precisa mudar.
Mas sabe-se também uma outra coisa importante: estatizar a economia não vai funcionar.
Nunca funcionou, nunca funcionará.

Já ficou claro que é melhor ter um quitandeiro e um dono da lojinha em cada bairro, comprando comida e sapatos para revender conforme as pessoas compram, do que ter um órgão estatal centralizado, distribuindo batatas e botas de acordo com uma planilha cheia de estimativas.
Outra coisa fora de moda é a tal revolução. A palavra hoje é encarada como uma metáfora – revolução pelo voto, revolução pelo tuitaço.
O comunista moderno só sente fúria, mesmo, contra coroas conservadores inofensivos.
Na impossibilidade de apagar da História seus inimigos – mas querendo manter a prática, em homenagem ao papai Stalin – a meninada inventou o tal cancelamento.

Cancelamento é uma coisa curiosa porque só funciona se o sujeito cancelado se importa com essa papagaiada de cancelamento.
Quem não dá a mínima, pode até estar “cancelado” e não saber.
Você só vai descobrir seu status – cancelado ou não-cancelado – se fizer uma conta no Twitter ou se começar a frequentar certas “bolhas” dentro do Facebook.
Seja como for, o “cancelamento” é a nova moda.
E faz sentido que assim seja. A massa, desde tempos imemoriais, adora um linchamento, um auto de fé, um pogrom. E agora dá para brandir as tochas e forcados sem sair do sofá. É muita modernidade mesmo.
É a era do MacComunismo.

Faz sentido.